Lawrence da Arábia
O termo épico colou nos grandes espetáculos hollywoodianos dos anos 50 e 60. Mais do nunca, épico significou grandioso. E Lawrence da Arábia é um exemplo significativo dessa associação. É chamado de épico porque tudo nele é superlativo: as paisagens, os figurantes, os figurinos, as cifras.
Porém, Lawrence da Arábia é épico como Os Lusíadas, por exemplo, pois trata de grandes feitos dos povos ou de grandes homens. No caso, Lawrence, um militar inglês que vai à Arábia ajudar o príncipe local a unificar as tribos em conflito, livrar o local do domínio do turco e garantir-lhes a independência. Ou seja, está ali para ajudar na construção de uma ideia de nação, tarefa, convenhamos, nada trivial.
A diferença sagaz e desconcertante do herói construído por Lean é o quanto Lawrence age não apenas por esses valores, mas também por sua reputação de herói, única garantia de os planos para a nação darem certo. Por isso ele executará um homem para apaziguar a briga entre as tribos, atravessará o deserto para tomar uma importante cidade e explodirá ferrovias turcas vestido como um herói nacional à frente dos homens comuns. Os numerosos figurantes árabes urram em homenagem a Lawrence. Em certa sequência, o inglês ensaia sozinho no meio do deserto movimentos de reverência logo após receber a honra de vestir a roupa nova (de herói árabe). Lawrence é um narcisista, um líder personalista, um herói que age consciente da reação (do público). Não é muito diferente de um Cristiano Ronaldo, um Neymar.
Lawrence da Arábia já aponta para essa consciência do ídolo. E o homem consciente de sua imagem, consegue milagre no deserto. O herói não deixa de sê-lo por isso, a inocência é que está perdida.
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Texto de Jonathan Rosenbaum: http://www.jonathanrosenbaum.com/?p=7576
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Steven Spielberg falando de seu filme favorito: