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CAHIERS: Você acaba de falar de O conformista, e, independente de suas qualidades (eu adianto que não o vimos ainda), esse filme traz um problema que é o da posição atual de Bertolucci diante do sistema de produção e distribuição. Bertolucci acredita que é importante fazer filmes no interior das grandes companhias (aí subentendido, possivelmente, as companhias americanas), porque é o único meio de realmente chegar a um grande número de pessoas – sem estar condenado de antemão ao “gueto” do filme de arte… 

DIEGUES: Geralmente se fala em “sair do gueto”, do mundo fechado do filme de arte. Mas não basta dizer “eu quero que meu filme seja visto por muita gente”. Essa “muita gente” não vai às salas de “gueto” porque o sistema acostumou-as a crer que os filmes que passam aí não são para eles. Se você tenta sair do “gueto” fazendo os mesmos filmes, logo você volta. Então, é preciso mudar a maneira de fazer filmes? Eu não sei. No Brasil, nosso problema é inteiramente diferente, porque nossos filmes saem sempre nas mesmas salas que saem todas bobagens do cinema mundial. Então, há uma espécie de escolha no local do espectador. Não há uma rede de filme de arte e eu espero que nunca haja.

Trecho de Entretien avec Carlos Diegues, realizada em outubro de 1970 por Jacques Aumont, Edoardo de Gregorio e Sylvie Pierre, publicada na Cahiers du Cinéma nº 225 novembro-dezembro de 1970 pg. 46.

“A crítica é a arte de amar. Ela é o fruto de uma paixão que não se deixa devorar por si mesma, mas aspira ao controle de uma vigilante lucidez. Ela consiste em uma pesquisa incansável da harmonia no interior da dupla paixão-lucidez. Um dos dois termos sendo mais forte que o outro, a crítica perde uma grande parte de seu valor. É necessário que ela possua esses dois motores. É evidente que não está em sua proposta entreter o leitor nessas tagarelices tão difundidas em tantas gazetas. De críticos eles só levam o nome, e degradando o termo, aviltam a função e abaixam aqueles que a praticam. Considerar o cinema (porque é dessa arte que falamos) como um assunto de conversa e somente como tal, me parece inqualificável. Visualizá-lo unicamente como objeto de interesse pessoal (ganha-pão, ocasião de construir um nome e aparecer, possibilidade de vender um roteiro ou se vender), ou utilizá-lo para conduzir um combate ideológico, político, religioso que lhe é estranho, resumindo, inflar o ego ou uma causa, a mais nobre que seja, em detrimento do cinema, trai uma desonestidade intelectual consumada. A arte exige da crítica que ela lhe sirva e não que ela se sirva da arte.

É porque a arte tem uma necessidade vital da crítica. Sem ela, a arte não pode existir. E isso de duas formas. Primeiro, uma obra de arte morre, se não se desencadear, por seu intermédio, um contato entre duas sensibilidades, , a do artista que concebeu a obra e a do amador que a aprecia. O próprio fato de sentir profundamente uma obra, e depois de propagar seu entusiasmo, constitui uma ação crítica, mesmo que ela seja apenas oral. Um só amador basta para restituir o verdadeiro valor às obras ignoradas, como aos artistas esquecidos. A existência material de uma obra de arte, com efeito, não vale nada em si. O que era para nós, ocidentais, até 1952, Mizoguchi, o maior, talvez, de todos os cineastas? Nada, ou apenas uma aglomeração de película tão perdida nos estúdios japoneses quanto foi Angkor Vat em sua floresta. O acaso teve a bondade de preservá-las, como ele fez com Pompéia, com a Vênus de Milo, Vermeer ou Vivaldi. Seu capricho poderia muito bem ter sido destruí-las. Nem mesmo a lembrança, nem mesmo a idéia delas. Só importa, com efeito, a ressonância que as obras, e por conseqüência a arte, provocam na consciência dos homens. É nela e por ela que as obras vivem.”

Os dois primeiros parágrafos de A arte de amar, de Jean Douchet, publicado originalmente na Cahiers du Cinéma nº 126, dezembro de 1961; tradução de Ruy Gardnier.

 

Amar

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

 

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

 

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

 

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

 

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

 

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma

Para quem não sabe, foi publicado o seguinte e-mail na sessão “Fale com a redação” do Guia da Folha de 29 de abril:

Fim das críticas

Como a maioria dos leitores da Folha gosta de filmes previsíveis, piegas e repletos de analogias simplórias (de acordo com as palavras do crítico André Barcinski, no Guia, ed. de 15/04), como “Em um Mundo Melhor”, sugiro que esse (des)serviço seja extinto. O cinema agradece.

Ari Wigierski Yoles, 48, engenheiro Read More

1. Até o dia 20 de fevereiro está rolando no CCBB a restropectiva do Luc Moullet. Ele era crítico do Cahiers du Cinéma na virada dos anos 50 para os 60 e se meteu na realização, seguindo a trilha dos jovens turcos. É talvez um dos mais sarcásticos críticos da história e seu cinema manteve essa veia ácida, sob forte influência do cinema B americano. Vale a pena conferir um cineasta que nunca sai nos cinemas por aqui e, até por isso, é pouco comentado, apesar de sua força. Read More

Hoje vi no supermercado um shampoo chamado Control Queda Therapy.

Um operário da inteligentsia poderia prematuramente pensar: estaríamos tão colonizados pelo american way of life  que não se enxerga o tanto que este país está se americanizando? Afinal, a elite financeira brasileira odeia pensar em Terapia de Controle de Queda, principalmente num xampu.

Contudo, não se pode esquecer que há muitas bombonières e personalités para além dos deliveries. A classe média também quer se sentir nos Champs-Elysées.

Porém, o espaço não é para discussão de linguística e derivados e o mesmo operário da inteligentsia poderia me tomar por arrogante. Não quero que seja o caso.

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Ainda não entendi o que aconteceu com o lançamento dos últimos dois filmes do Coppola no Brasil (assim como não entendo o sumiço de À Prova de Morte, ainda inédito por aqui).

Tudo bem que claramente Youth Without Youth e Tetro não tem qualquer chance de sucesso de bilheteria nas salas. Independente disso, o circuito de arte de São Paulo lança cada coisa ruim que não compreendo porque os novos filmes de um dos mais importantes diretores dos últimos 40 anos não despertaram o interesse de nenhum distribuidor.

Também sei que os dois filmes são obras de um cineasta muito diferente daquele que fez O Poderoso Chefão e Apocalipse Now. Isso talvez decepcione parte do público, mas a mim foi surpreendente.

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Já passou algum tempo, mas ainda é hora de fazer a minhas lista dos melhores filmes de 2009.

Para mim uma boa lista tem que se propôr a fechar um número (aqui serão 10) e não abrir excessões. Nada desse negócio de dois filmes empatados na mesma posição ou então menção honrosa. Como diz o velho ditado, ajoelhou tem que rezar.

Então, vamos à minha lista:

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