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literatura

I am not a painter, I am a poet.
Why? I think I would rather be
a painter, but I am not. Well,

for instance, Mike Goldberg
is starting a painting. I drop in.
“Sit down and have a drink” he
says. I drink; we drink. I look
up. “You have SARDINES in it.”
“Yes, it needed something there.”
“Oh.” I go and the days go by
and I drop in again. The painting
is going on, and I go, and the days
go by. I drop in. The painting is
finished. “Where’s SARDINES?”
All that’s left is just
letters, “It was too much,” Mike says.

But me? One day I am thinking of
a color: orange. I write a line
about orange. Pretty soon it is a
whole page of words, not lines.
Then another page. There should be
so much more, not of orange, of
words, of how terrible orange is
and life. Days go by. It is even in
prose, I am a real poet. My poem
is finished and I haven’t mentioned
orange yet. It’s twelve poems, I call
it ORANGES. And one day in a gallery
I see Mike’s painting, called SARDINES.

-Frank O’Hara

Acabo de ler a tradução do livro de Peter Biskind Easy Riders, Raging Bulls, que no Brasil ganhou o nome de Como A Geração Sexo-Drogas-e-Rock ‘N’ Roll Salvou Hollywood.

Biskind faz essencialmente uma investigação de bastidores sobre a geração que iniciou a fazer filmes no fim dos anos 60 e início dos anos 70, passando por figuras conhecidas na tela mas cuja importância fora dela às vezes se perca: Warren Beatty, Dennis Hopper, Jack Nicholson, os roteiristas Robert Towne, Paul e Leonard Schrader, e os diretores Coppola, Lucas, Arthur Penn, Hal Ashby, Scorsese, Spielberg, Altman (ainda que este seja um pouco mais velho).

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Não consigo me lembrar de muitas adaptações para o cinema da obra de Rubem Fonseca.

Agora só lembro de Lúcia McCartney, de David Neves, A Grande Arte, de Walter Salles e Bufo & Spallanzani, do Tambellini.

Na TV, teve Agosto e, recentemente, a picaretagem Mandrake.

Independentemente, parece que o lado “policial” de Fonseca foi mais aceito pelos realizadores que sua vertente mais “perversa” e, fora isso, apenas o filme de David Neves foi feito na época que Fonseca estava no auge da forma. A geração cinema-novista ignorou Fonseca?

Talvez. O Cinema Novo tinha um projeto que se adequava mais a adaptar obras consolidadas de grandes escritores da literatura brasileira como Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Fonseca era ainda recente e talvez longe do projeto de “revelar o Brasil” da turma.

E de fato este impulso do Cinema Novo é diferente de Fonseca em muitos aspectos, mas o principal é quanto à luta de classes.

Enquanto os cinema-novistas entendiam a luta de classes no Brasil como uma batalha a céu aberto entre os abandonados contra os poderosos, o que em geral ia para uma vertente maniqueísta, nos textos de Fonseca a luta de classes quase não existe no primeiro plano: os marginalizados não entendem esse processo histórico que os opõe aos ricos, mas o sentem como algo enraizado. Este chega a ser bestial, como no conto Feliz Ano Novo. Trata-se apenas de um simples assalto a uma mansão durante a festa de ano novo? Claramente há um choque de classes, mas este não está na intelecção e, sim, no subconsciente. A relação entre classes deixou de ser apenas um processo histórico, transformou-se também numa patologia. É uma questão tanto ou talvez mais física e que intelectual.

O exemplo mais didático dentro da obra de Fonseca é o conto Ganhar o Jogo. Nele, um rapaz comum entende a vida como um jogo e resolve “ganhá-lo” assassinando um herdeiro grã-fino que viu exibindo seu iate num programa de TV. Ele não quer ser descoberto, ele não quer virar exemplo; ele deseja a morte do abastado apenas para satisfazer esse impulso subconsciente que, aliás, sua intelecção nega o tempo todo criando uma tese perversa e discutível para justificar-se: ele é alguém que quer apenas ter um saldo na vida (“…uma forma de ganhar o jogo é matar um rico e continuar vivo”).

Glauber embaralhou a visão e deu colorido ao entendimento da classe média em Terra em Transe. Fonseca tem uma visão diversa da luta de classes no Brasil, mais do que a esquerda intelectual gostaria. Sinceramente, não acredito numa verdade sobre o assunto, nem em visão certa ou visão errada. Fonseca apenas coloca uma pimenta (e sangue, sêmen e excremento) no assunto. Teria isso espantado os cineastas nos últimos 30 anos?

Acabo de ler uma “bíblia” (799 páginas) de Rubem Fonseca lançada pela Companhia das Letras a algum tempo. 64 Contos de Rubem Fonseca é uma coletânea de contos do autor que reune um pouco dos vários momentos de sua obra.

De seus livros, já tinha lido Feliz Ano Novo, Agosto, O Caso Morel e Romance Negro. A coletânea foi interessante para me dar um panorama mais vasto de sua obra.

Sempre achei Fonseca muito interessante. Sua prosa é seca, porém verborrágica, as palavras explodem na página como se não tivessem lugar, causa uma sensação de desconforto pelo o descobrimento de um novo mundo.

Esse mundo que se descobre é sujo, cruel e perturbadoramente comum. Estão todos juntos advogados, socialites, ladrões, economistas, empresários, copeiros, enfermeiras, prostitutas, poetas, acadêmicos, estupradores, garçons, assassinos.

Aí mora o interesse: um mundo que poderia parecer apocalíptico e vazio de valores é, nas histórias de Fonseca, normal. O valor do mundo é o não-valor, ou melhor, os valores morais são impostos, existem apenas como produto de uma organização social arranjada, antinatural.

O mundo de Fonseca é uma terra onde a besta humana – cuja representação vai de amor e raiva a sangue e excrementos – entende a regra do jogo, porém não as incorpora como sua.

Naquele que considero um dos pontos altos de sua obra, Passeio Noturno, um homem bem-sucedido alivia os males da vida assassinando pessoas desconhecidas, atropelando-as com seu Jaguar. Para os impulsos não há regras. Nem nada de “especial” nisso.